[foto/arquivo] Casal-modertette usando usando um traje atualíssimo para assistir a um videoclip

Nossos pais costumavam dizer - para que lavássemos as mãos antes do jantar - que "dinheiro é uma coisa suja". E pelo jeito, as produtoras levaram esta frase ao pé-da-letra-da-música para ganhar dinheiro fácil fazendo videoclips. Aqui vai a receitinha para fazer um videoclip de sucesso:

AS MULHERES:
Brancas, negras, morenas, orientais, etc. O mais importante hoje em dia, é que elas tenham cara de outlaw, cara de bandidas, mesmo sendo classe-média e gostando de comer frango com polenta. E mais que fundamental: que os lábios sejam grandes, muito grandes, enooooormes, beiçolas. Porque modernidade é assim mesmo e isso já não se discute mais.

OS HOMENS:
Brancos, negros, morenos, orientais, etc. Mas têm que ter cara mau. Mas não mauzões verdadeiros: só espressões de mauzões-fake, mesmo sendo classe-média-comportada que chama a mulher de "patrôa" e bebe Grapette.
[foto/arquivo] Em 2015, quando os programas de TV transmitidos tiverem cheiro, usaremos Desodorizadores Nasais Neutrônicos - DNN - para assistir aos videoclips

O FIGURINO:
O delas: pouquíssimas roupas e coladíssimas ao corpo. O deles: largas em estilo malaco-qualquer-coisa-serve. Ambos têm que ter as roupas obrigatoriamente rasgadas. As delas, quanto mais rasgadas melhor: em frangalhos e mostrar a maior parte dos seios e nádegas. Todas as roupas do clip devem estar sujas, com manchas que nenhuma dona-de-casa de propaganda de sabão em pó conseguiria tirar. Como se todos os personagens do videoclip tivessem participado da limpeza de algum derramamento de petróleo na Baía de Guanabara ou do Exxon Valdez no Alasca.

OS CORPOS:
Devem estar totalmente oleosos e suados. Sem corpos muito oleaginosos, asquerosamente escorregadios e muito, muito suados, esqueça que o videoclip que não vai passar na Êmtiví (de qualquer modo não vai passar mesmo porque a Êmtiví não toca mais músicas,só conversas fiadas 24 horas por dia). Problema sazonal: encontrar suor em pleno Inverno. Solução: academias de ginástica - elas são uma fonte de suor grátis. Basta chamar um daqueles homens da feira que consertam panelas de pressão, e ele, com os conhecimentos que têm e um simples tubinho de borracha (daqueles de gás de cozinha) improvisará um suorduto, para que toda aquela porquêra suarenta saia da academia e chegue até o estúdio de filmagem do videoclip. O odor da mescla de suores será incheirável. Mas não se preocupe: por enquanto as TVs não têm cheiro.

[foto/Del Gatto] No futuro, todas as TVs virão equipadas de fábrica com estes moderníssimos desodorantes digitais, que vão amenizar a catinga deste tipo de videoclips

A LOCAÇÃO:
A locação do videoclip de sucesso é sempre em um beco imundo, escuro e decadente, com vidros quebrados, paredes cinzas e algumas pichações estratégicamente colocadas. Claro que nenhuma das pessoas envolvidas no clip jamais pisou em um lugar destes, pois todos já habitam em lugares maravilhosos, limpos e claros em Park Avenue, Rodeo Drive, Malibú ou frequentam o clube de criquet de Newport.
E têm seus Aston Martin, o automóvel que 10 entre 10 rappers possuem. É tudo em nome das mensagens de protesto das músicas, claro. Resumo: quem quer estar realmente in, imperativamente in, tem que fingir que flerta com a marginalidade e com a sujeira.

A AÇÃO:
Agora que já temos o casting, os corpos abundantemente encharcados e oleaginosos de suor alheio, o cheiro, e o guarda roupa todo rasgado e sujo, vamos para a parte mais simples: as fakebadgirls-suadérrimas, de lábios gigantescos e fazendo caretinhas malvadas interagem com os fakebadboys-suadérrimos, musculosos e com caretinhas malvadas. A partir daí, corpos femininos e masculinos se juntam e começa a fase de Síndrome de Enguia Coletiva (SEC): saracoteiam e se roçam curvilíneamente uns nos outros, como se estivessem em fase de acasalamento coletivo. Tudo começa a funcionar como uma máquina em movimento saracoteante. O odor é nauseabundo, mas é tudo em nome do amor à arte, da música e do protesto social. Não é por dinheiro. Importante: nesta fase o estúdio deve ligar o ar condicionado ao máximo para espantar a catinga e possuir um bom estoque de pomada para torcicolos e dores lombares.

O NOME DO CANTOR:
O mais fácil: pode ser qualquer bobagem, pois a modernidade admite isso. Assim, se formos na linha da tralha que dá dinheiro, vamos de M&M (ou eminem se quiserem). Aí então, podemos tentar nomes como: Jujubas, Marias Moles, Brigadeiros, Gelatinas e até mesmo o tropicalíssimo Cajuzinho. Podemos também optar pelo nome "J" (pronuncia-se Didjêi) e depois acrescentar qualquer coisa em inglês: J. Cent, J. Boy. J.J., J. Cool, J. Ice, J. Nice, J. Bad, etc.

[foto/arquivo] Você só precisa destas palavrinhas para ganhar rios de dinheiro com um videoclip

A MÚSICA:
A parte menos importante. Receitinha de sucesso para compor uma música de videoclip:
1. Fabricar uma letra e pedir para o cantor(a) gritar alguns palavrões, que insultem todo mundo indiscriminadamente (senão, não é protesto de raiz): desde o Sistema até o vendedor de biscoito polvilho da praia.
2. Samplear com alguns segundos de música pop que chegou ao Top Ten
3. Mixar com muitos gemidos libidinosos e salpicar mais alguns "ãhã, ãhã"
4. Acrescentar sirenes de polícia e mother fuckers em profusão.

O INGREDIENTE SECRETO DA RECEITA DE SUCESSO:
Colocar obrigatoriamente a tarja "Parental Advisory" (aviso aos pais de que o conteúdo é obsceno, entre outras coisas). Estas são as duas palavrinhas mágicas para ganhar rios de dinheiro e andar de Aston Martin, cercado de mulheres semi-nuas (roçando-se e contorcendo-se como enguias) enquanto faz o tal do "protesto social" que está nas letras das músicas. Yo!

Maya J. Times - Diretora Editorial