quarta-feira

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[foto/arquivo] O que é que a laranja tem? Hoje em dia, além de vitamina C, muito carisma

O que é que a laranja tem? A laranja tem vitamina C, mas a cor laranja tem carisma. As cores, desde os mais remotos tempos têm um significado para cada povo: branco-paz, vermelho-fogo, verde-esperança, etc. Algumas cores, como o azul, o vermelho, o branco e o verde, entre outras, têm salvo-conduto para serem usadas naturalmente em roupas, cartazes, logotipos, etc. Tudo sem mais problemas. Já, outras cores, têm o seu uso restrito. Isso até o momento em que alguém as liberte e elas possam conviver com o mundo capitalista. Não parece, mas até as cores têm este tipo de problemas. Mas como elas não falam, sofrem caladas.
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[foto/arquivo] Sinais de trânsito: um dos poucos lugares em que se usava o laranja

Aliás, isso não é novidade: é só refrescar a memória e lembrar do prímário e da caixinha de lápis de 12 cores para constatar que enquanto o vermelho, o azul, o amarelo, o verde, e o preto (entre outros) ficavam muito gastos, outras cores como o violeta, o cinza, etc. sempre ficavam sem usar. Pior que estas cores só mesmo o lápis branco, que ninguém sabia para que servia, já que não coloria nada.
Mas em termos de sociedade de consumo, o preto era uma destas cores para ser usada somente em certas ocasiões. No Ocidente, a cor preta era frequentemente associada ao luto e à cor fascista da época de Mussolini. Ou seja, excetuando-se ocasiões especiais como trajes black-tie, vestidos como o pretinho básico ou luto, existia uma regra não escrita que vetava o uso desta cor.
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[foto/arquivo] O laranja só era utilizado em serviços públicos (no sentido horário): veículo, logotipo e garis da prefeitura do Rio de Janeiro e táxis de Curitiba. Ao centro, uniforme de presidiários americanos

E cor preta nos automóveis, nem pensar. À não ser que você fôsse presidente e tivesse uma limousine na garagem. Daquelas que têm uma bandeirinha do país em cada ponta. Até que um dia as coisas mudaram: os carros com a cor preta começaram a ser fabricados com a percepção de venda de "serem elegantes". As pessoas que no início comentavam “mas que cor estranha para um automóvel”, com o tempo foram se acostumando e começaram a pulular carros pretos de todos os tamanhos e modelos. Até as pessoas começarem a posar como estrelas de Hollywood ao lado do seu fusquinha preto. Ah, sim, e quanto as limusines, qualquer rapper hoje em dia tem. Bem, e nem é preciso dizer que hoje, é a cor prata, apesar de clássica e bonita, que tornou-se uma praga incontrolável que infesta todas as

matte_leao_orange[foto/arquivo] O brasileiríssimo Matte Leão: pioneiro no uso do laranja. E a Orange, um pioneiro laranja nas telecomunicações

ruas e avenidas do país. Ao ponto que, se descer um disco voador prateado em uma avenida em plena hora do rush, as pessoas nem vão se dar conta e achar que é mais um modelo novo de carro cor prata.
Já no campo da moda, com a overdose dos desfiles de moda, os costureiros resolveram adotar o seu modelito-monocromático-preto. A partir daí, a pergunta que mais intriga a humanidade não é mais "de onde viemos, quem somos e para onde vamos" e sim, "porque todo costureiro tem que usar o tal modelito-preto?"
Algumas correntes dizem que o utilizam como uma resposta à impossibilidade de usar o Pretinho-Básico de Chanel, um sucesso atemporal.

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[foto/arquivo] A Holanda com o surpreendente uniforme laranja de '78 não fez a cor virar moda. E mesmo com o sucesso do filme Laranja Mecânica, ninguém entendeu o porquê do nome

Mas verdade seja dita, o modelito-monocromático-preto dos costureiros foi mais um impulso para a cor ser aceita no vestuário do dia-a-dia das pessoas.
Mas onde queremos chegar com toda esta história? Com a constatação de que em tempos recentes, mais uma cor proscrita, recebeu o salvo-conduto para poder conviver com as outras cores de mercado: o laranja.
A cor laranja sempre foi associada a instituições públicas, sendo usada em lixeiras públicas, roupas de penitenciárias americanas e sinais de advertência. Isso sem mencionar qualquer coisa à base de laranja (como os refrigerantes) e os remédios efervescentes para gripe, depois das descobertas de Linus.
Não o Linus das histórias em quadrinhos do Peanuts (que usa

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[foto/arquivo] Cor laranja era privilégio dos efervescentes como Cebion e Redoxon, incentivados pelas descobertas de Linus Pauling

o seu cobertor como segurança) e nem Linus Torvald (que desenvolveu o sistema Linux para computadores). Nos referimos a Linus Pauling, o cientista prêmio Nobel e suas pesquisas sobre os benefícios da vitamina C.
Mas, saindo da ciência e entrando no Capitalismo, de uns tempos para cá alguém resolveu que era hora do laranja conviver capitalisticamente com as outras cores. Um fato marcante foi a companhia de comunicação e telefonia móvel inglesa Orange. Anos atrás, a sua campanha de marketing foi um sucesso: ela não só adotou a cor laranja, como também o nome (Orange).
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[foto/arquivo] Linus, LinusTorvald e Linus Pauling: o terceiro Linus já estava descobrindo a energia da laranja

Foi na contramão de todas as “cores tecnológicas” do setor, como o prata, azul, e conseguiu se impor no mercado (mais detalhes em www.orange.com - brand). E isso foi um dos grandes pretextos para que todas as outras companhias do mundo, que estavam escondidinhas usando as suas cores habituais, fôssem atrás e libertassem de vez o laranja.
Hoje já não é possível dar um passo sem tropeçar no laranja: Terra (provedor de internet), Gol (linhas aéreas), Banco Itaú, Blogger, agora todos querem ser moderninhos

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[foto/arquivo] Hoje em dia, ser laranja é ser moderno

usando a cor laranja. É só olhar para os lados e surgem novos laranjas à todo o momento. E não só em marcas e logotipos, mas também na comunicação visual: cartazes, senhas, avisos, botões, tickets, etc. Na verdade, a cor laranja não tem absolutamente nada a ver com o que estas companhias de tecnologia oferecem. E exatamente por isso a cor laranja não era usada. Se alguns anos atrás alguém sugerisse a cor laranja para uma linha aérea ou para um banco simplesmente ouviria a frase “mas nós somos uma empresa séria, não podemos usar a cor laranja”.
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[foto/arquivo] Antes quem vestisse laranja, era como se usasse um "chapéu de penico na cabeça e um colar de melancia no pescoço" para aparecer

Mas o fato é que a cor laranja desvinculou-se da fruta graças a campanhas executadas de forma profissional e contínua.
Com isto, fizeram com que o nosso cérebro transformasse a percepção do laranja como "aquela corzinha da fruta" para uma percepção conotando o laranja como uma cor vibrante, atual e moderna.
Mas para que estas empresas não se sintam moderninhas demais por se acharem os descobridores do laranja, temos que lembrar alguns pioneiros.
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[foto/arquivo] Laranja no vestuário: hoje em dia pode

O rótulo do Champagne Veuve Clicquot, era (e ainda é) laranja em uma época em que esta cor era proscrita em termos de consumo.
E muito menos ser usada em rótulo de Champagne. Já imaginaram um rótulo de champagne laranja? Parece ridículo, não? Mas eles datam de 1772. Isto sim é que é pioneirismo. Mas um fato curioso é que mesmo a empresa Veuve Clicquot não vê a sua cor como laranja e sim como um amarelo (jaune).
Mais antigo do que este champagne só mesmo os monges, que há milhares de anos estavam na moda com a cor laranja
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[foto/arquivo] Veuve Clicquot: pioneiro laranja em 1772. Falta agora todos começarem a tomar champagne em scarpins, como nos filmes

das suas roupas e nem sabiam. Já no Brasil o Matte Leão é pioneiríssimo no uso do laranja.
E mesmo com as constantes atualizações de rótulos e embalagens, nunca abdicou desta cor.
Com todos estes movimentos, o laranja acabou chegando às roupas: a Holanda surpreendeu o mundo na Copa de '78 com o seu belíssimo uniforme laranja com as cores da Casa de Orange (em inglês), a monarquia holandesa.
Mas mesmo assim, não conseguiu ganhar a Copa e a cor só virou moda em anos recentes. Tanto é, que, ter um uma

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[foto/arquivo] Os monges já eram laranja há milhares de anos. E o Fiat Idea descobriu a modernidade agora

peça de roupa laranja no guarda-roupa era praticamente impossível: antes, quem vestisse laranja era como se usasse um "um chapéu de penico na cabeça e um colar de melancia no pescoço" para aparecer. Mas hoje, está liberado: todos temos o direito de ter uma peça de roupa laranja no guarda-roupa (os ternos laranja ainda não, ufa). É só olhar em volta e ver como o laranja está cada vez mais sendo utilizado. Até nós temos a nossa coluninha lateral laranja. Mas que moderninho, não?
Del Gatto - Editor-Executivo

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